Ocorreu ontem uma roda de
conversa promovida pelo Comando Unificado de Greve – UFSC sobre a dívida
pública brasileira e a necessidade urgente de realizar sua auditoria. O colega
TAE Luiz Artur Oliveira organizou e apresentou o conteúdo aos presentes. O tema
foi dividido em 5 tópicos, resumidos aqui da seguinte maneira:
1) PARADOXO BRASILEIRO: o Brasil possui o 2º maior aquífero,
capaz de abastecer a população brasileira por muitos anos; é o 6º maior
detentor de reservas de petróleo; possui minérios de ferro em abundância... Como
pode um país com tantas riquezas ter uma distribuição de renda tão perversa, e
ocupar posições muito baixas em rankings
como crescimento econômico, direitos humanos e educação?
2) HISTÓRICO DA DÍVIDA: os primeiros montantes contraídos
pelo país foram no período de independência, quando negociou um empréstimo de 2
milhões de libras esterlinas com a Inglaterra, a título de indenização a Portugal. A partir da década
de 60, os montantes da dívida passaram a tomar proporções alarmantes, com os
militares elevando a dívida de 3 bilhões para 100 bilhões de dólares ao final da ditadura.
Observa-se no quadro abaixo (elaborado pelo palestrante), a evolução da dívida
(externa e interna) em relação a períodos e governantes, e o quanto foi pago
durante os três últimos governos:
GOVERNO
|
PERÍODO
|
PAGOU (R$)
|
EXTERNA
(US$)
|
INTERNA
(R$)
|
Ditadura
militar
|
100
bilhões
|
|||
José
Sarney
|
120
bilhões
|
|||
Collor/Itamar
|
150
bilhões
|
100
bilhões
|
||
FHC
|
2,09
trilhões
|
230
bilhões
|
900
bilhões
|
|
Lula
|
4,79
trilhões
|
290
bilhões
|
2,3
trilhões
|
|
Dilma
|
2,18
trilhões
|
485
bilhões
|
3
trilhões
|
|
TOTAL PAGO
|
9,06 TRILHÕES
|
Observando o
quadro, percebe-se que, somente nos últimos 20 anos, o Brasil já pagou mais de 9,06
trilhões de reais de uma dívida aparentemente bem menor que esse valor. Fica a pergunta: como é possível pagar tanto e a
dívida só aumentar?
3) SISTEMA DA DÍVIDA: as dívidas dos países seguem,
basicamente, o mesmo esquema de constituição e manutenção: a) contratação de
dívida sem contrapartida para a sociedade, ou aplicação em projetos
desnecessários, como a construção de estádios para a Copa do Mundo; b) dívida
gerada da dívida: juros abusivos, juros sobre juros, taxas e comissões
abusivas; c) refinanciamentos que absorvem dívidas privadas (“salvamento de
bancos”), dívidas que prescreveriam e são renegociadas d) utilização do
endividamento como coerção a países endividados, obrigando-os à implementação
de reformas neoliberais. Amparada em aparatos legais, o sistema da dívida
garante que o país cumpra as determinações do sistema financeiro, entre elas a
aplicação de carga tributária elevada, congelamento de salário de servidores
públicos, o contingenciamento de gastos sociais, e, principalmente, a não
auditoria da dívida.
4)
FISCALIZAÇÃO/AUDITORIA: TCU, CGU, Ministério Público e
o Legislativo.
5)
EXPERIÊNCIAS DE AUDITORIA NO MUNDO:
a)
Equador, 2008: constatou que todo o montante da dívida
era ilegal, mas conseguiu eliminar 70% do valor a ser pago.
b)
Argentina (desde 2001): entre o que foi considerada
“dívida legal”, quitou o débito com 97% dos credores. Os outros 3% não
aceitaram a decisão de receber o valor corrigido pelos trabalhos de auditoria,
e entraram na justiça norte-americana. Ainda estão em processo de negociação.
c)
Grécia: atualmente em processo de auditoria.
Ao final das discussões, foram
apontados dados da dívida pública brasileira, que hoje conta com um valor
aproximado de 335 bilhões apenas referente a juros, e já houve uma tentativa de
auditoria em meados de 2009. O Banco Central se recusou a fornecer informações
sobre os credores e contratos, entre outras, levando a equipe a conseguir
apontar somente estimativas quanto à dívida: no mínimo, 50% do crescimento da
dívida nos últimos anos é ilegal, e mais de 90% dela é oriunda de juros sobre
juros. Estas informações foram retiradas de uma entrevista fornecida pela
auditora federal aposentada, Maria Lucia Fattorelli, que, atualmente, participa
de auditorias de dívidas públicas ao redor do mundo, e é uma das fundadoras da Associação
“Auditoria Cidadã da Dívida”.
O site da “Auditoria Cidadã da
Dívida” e a entrevista fornecida à Carta Capital podem ser encontradas nos
seguintes endereços:
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